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Curiosidades

Vinho envelhecido no mar: como funciona esse processo?

28 julho 2020
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Saiba tudo sobre esse novo jeito de fazer o vinho chegar ao seu ápice!

Você sabia que os vinhos podem ser envelhecidos no fundo do mar?

Alguns vinhos são feitos para ter o consumo rápido, em média entre o terceiro e quinto ano de produção, mas outros são feitos para um consumo a longo prazo. São os chamados vinhos de guarda, que podem ficar 10, 30, 50 anos amadurecendo e evoluindo o seu sabor em barris de madeira, aço inox ou concreto. 

Essas raridades devem ser conservadas por décadas para que atinjam seu ápice, você sabe por quê? Tudo depende da concentração, acidez, taninos e a forma como eles foram produzidos. Isso quer dizer que a longo prazo eles ficam ainda melhores. 

Ainda assim, tanto os de guarda quanto os de consumo rápido precisam passar pelo processo ideal de envelhecimento antes de serem considerados próprios para o consumo.  Isso pode levar alguns meses.

Mas, no início deste século, mergulhadores que encontraram garrafas em navios naufragados e as trouxeram para a superfície mostraram para os especialistas um novo jeito de fazer o vinho envelhecer: no fundo do mar. 

Algumas dessas garrafas, segundo o blog Paladar, do jornal O Estado de São Paulo, foram a leilão porque se mostraram intactas. Em 2010, a Acker Merrall & Condit, maior leiloeira de vinhos finos e raros do mundo, leiloou uma Veuve Clicquot resgatada de um naufrágio na Finlândia pelo equivalente a US$ 44 mil.

Como funciona a evolução de um vinho?

É na garrafa que o vinho encontra um meio redutor onde realmente se verifica a transformação do aroma, graças ao fenômeno de esterificação. A cor também muda, já que a polimerização parcial das antocianinas em ambiente redutor modifica a coloração de vinhos de tons avermelhados para tons amarronzados.

O sabor dos vinhos envelhecidos são beneficiados pelo que os especialistas chamam de afinamento, processo que salienta a harmonia de suas qualidades.

Tudo isso acontece sob condições especiais. Por exemplo, o vinho tem sempre que estar na horizontal, em contato com a rolha de cortiça para mantê-la inchada e impedir a entrada de oxigênio dentro da garrafa.  

A iluminação deve ser a mínima necessária, já que a luz interfere negativamente nas transformações físico-químicas que acontecem, podendo ocasionar a precipitação e oxidação dos pigmentos, com a consequente deterioração dos vinhos.

A temperatura deve ser a considerada ideal, o que fica entre 16 e 18 graus Celsius.

Qual a diferença de envelhecimento no mar x terra?

Em 2013, a primeira vinícola dos EUA a envelhecer seus vinhos em alto mar, a Mira Winery, fez um experimento com o mesmo tipo de vinho e o envelheceu das duas formas, no mar e em terra. A conclusão dos vinicultores foi de que as garrafas que tiveram seu período de evolução no mar apresentavam mais complexidade.

A vinícola depositou 12 garrafas de vinho no Porto de Charleston, na Carolina do Sul, em uma profundidade de 60 pés. Depois de 4 meses, recolheram os vinhos e degustaram junto das que ficaram em terra. 

Segundo o vinicultor Gustavo Gonzales, o vinho que vinha do mar não era melhor e nem pior do que o da terra, mas era diferente. Com aromas mais abertos. 

Por que o mar é uma adega natural?

O que mais as pessoas prezam em uma adega? Que a temperatura não tenha oscilações e que a luminosidade seja a ideal, certo? É isso que acontece no fundo do mar.

Além de todo esse cenário natural e positivo tem também o movimento que anula uma necessidade importante: a de girar as garrafas diariamente. Ou seja, o mar é ideal para quem quer extrair o melhor de um vinho. 

Já existe vinho envelhecido no mar no Brasil?

A brasileira Miolo, da Serra Gaúcha, tem mandado garrafas do seu Cuvée Tradition Brut para serem envelhecidas no mar da França. O lote de 500 espumantes faz parte do projeto Under The Sea.

O vinho envelhecido no mar é mais caro que o normal?

Os valores podem oscilar muito, mas justamente por ser uma operação que exige um cuidado maior do que apenas armazenar os vinhos em um local propício, ainda existem as questões das pesquisas que precisam ser feitas para comprovar que a água do mar não contaminou o conteúdo das garrafas.

Em 2014, por exemplo, a Alcohol and Tobacco Tax and Trade Bureau (TTB) – a agência do governo americano que regulamenta a rotulagem dos vinhos – demonstrou preocupações em relação ao assunto depois das primeiras notícias sobre o experimento da Mira Winery – que citamos anteriormente.

Segundo a entidade, a bebida poderia ser contaminada por substâncias encontradas na água do oceano, incluindo gasolina, óleo, metais pesados, plásticos, resíduos de medicamentos, pesticidas, entre outros.

Mas a Mira Winery declarou, na época, que o revestimento em cera usado para impedir o contato do mar com o vinho não tinha sido danificado, ou seja, o vinho não sofreu infiltrações de água.

Em geral, esse tipo de vinho é vendido em edições especiais. O da produtora Edivo, da Croácia, por exemplo, é vendido coberto de cracas e incrustações causadas pelo tempo no mar, para que os compradores tenham a exata noção de onde vieram aquelas garrafas.  

Esse vinho envelhecido no fundo do mar, em garrafas de vidro e ânforas, tem um sabor mais suave e é vendido entre US$ 77 e US$ 230 dólares. 

Escrito por: Wine