Tokaji Aszú – “O vinho dos reis e rei dos vinhos”
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O Tokaji Aszú húngaro se estabeleceu em meados do século 17 como, provavelmente, o primeiro grande vinho doce do mundo. Saiba mais.
Longa é a estrada em que homens e vinhos caminham lado a lado. Sem dúvida, é o bastante para ter dado origem a histórias fascinantes e tornar lendário os nomes de alguns vinhos.
É o caso do Tokaji Aszú, vinho ícone húngaro, que se estabeleceu em meados do século 17 como, provavelmente, o primeiro grande vinho doce do mundo, ao surpreender o clero e a nobreza europeia com seu sabor envolvente e único.
Atualmente, comidas e bebidas adocicadas fazem parte da nossa alimentação, com preços acessíveis. Porém, nessa época, o acesso a esse tipo de alimento, sobretudo vinho, era muito raro, o que explica a enorme fama do Tokaji Aszú.
História do vinho Tokaji Aszú
Seu estilo inigualável encantou o Papa Pio IV, que o recebeu de presente de um arcebispo húngaro durante o Concílio de Trento (1562). Altamente apreciado pelos czares – especialmente da dinastia Romanov –, pela corte polonesa e a casa real Austro-Húngara, era também presença certa nos banquetes das demais cortes europeias.
Fã desse vinho, o rei Luís XIV, da França, em seus eventos no famoso Palácio de Versalhes, adicionou a seguinte descrição no cardápio, ao se referir ao vinho: “C’est le roi des vins et le vin des rois”, em tradução livre, “vinho dos reis e rei dos vinhos”.
Luís XV, seu sucessor, sempre presenteava sua amante, a famosa Madame Pompadour, com o vinho, cuja descrição em latim era “Vinum Regum, Rex Vinorum”, frase de mesmo significado (“vinho dos reis, rei dos vinhos”). Sua fama ultrapassou os limites da nobreza e foi também fonte de inspiração para escritores como Voltaire, Rabelais e Goethe.
De acordo com Voltaire, esse vinho “revigora todas as fibras do cérebro e, no fundo da alma, produz um delicioso brilho de inteligência e bom humor”.
No final do século 17, os vinhos Tokaji Aszú possuíam tanta fama por toda a Europa que o príncipe Francis II Rákóczi insistiu que fosse elaborada uma classificação com as melhores vinhas em torno das 28 aldeias da região de Tokaj.
Como é produzido o vinho Tokaji Aszú
Mas esse pedigree todo tem sua razão de ser. O Tokaji Aszú é de fato um vinho diferenciado e muito se explica pelo seu processo de produção.
As uvas que o originam (geralmente Furmint, Hárslevelü e Yellow Muscat) são colhidas durante sua melhor maturação e, durante a fermentação, parte delas é atacada naturalmente pelo fungo Botrytis cinerea.
Ele provoca a desidratação dos frutos e eleva a concentração de açúcar e acidez. Essa mistura é acrescentada à vinificação, aumentando assim a complexidade do vinho.
Sua maturação mínima antes de ir para o mercado é de 3 anos, sendo 2 a 18 meses em barricas de madeira. Já o teor de açúcar residual mínimo, de acordo com a legislação húngara, é de 120 g/L.
Mudança de legislação
Até o ano de 2014, era muito comum encontrar o termo Puttonyos (cesto de madeira, com capacidade de 25kg) no nome de alguns vinhos húngaros.
Os números, sendo 3 o menor e 6 o maior, se relacionavam à quantidade de açúcar, que era crescente, e também ao nível de qualidade, sendo o de 6 Puttonyos o mais adocicado, além de ter melhor qualidade.
Após a sansão dessa nova regra, foi eliminada pela legislação a obrigatoriedade do termo Puttonyos como unidade de medida de doçura. Mas não se preocupe!
Se, por acaso, você encontrar algum exemplar com essa nomenclatura no mercado, com safra posterior a de 2014, pode comprar sem receios, pois alguns produtores preferiram manter essa tradição em seus vinhos.
Pela atual legislação húngara, o hall dos vinhos adocicados do país permaneceu da seguinte forma (em ordem crescente):
Eszencia
Elaborado apenas com uvas atacadas pelo fungo Botrytis cinerea com mínimo de 450 g/L de açúcar residual e mínimo de 27,75% de álcool.
Aszú
Durante a fermentação, é adicionado uma parte de uvas atacadas pela Botrytis cinerea. Deve possuir mínimo de 120 g/L de açúcar residual e mínimo de 19% de álcool.
Szamorodni
Édes
Durante a fermentação, é adicionado uma parte de uvas atacadas pela Botrytis cinerea. Deve possuir mínimo de 45 g/L de açúcar residual e mínimo de 15,12% de álcool.
Fordítás
Édes
Durante a fermentação, é adicionado uma parte de uvas atacadas pela Botrytis cinerea. Deve possuir mínimo de 45 g/L de açúcar residual e mínimo de 12% de álcool.
Máslás
Édes
Durante a fermentação, é adicionado uma parte de uvas atacadas pela Botrytis cinerea. Deve possuir mínimo de 45 g/L de açúcar residual e mínimo de 15,12% de álcool.
Késői szüretelésű bor
Sem mínimo de açúcar residual, mas com álcool mínimo de 12,8%.