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Diário do Winehunter

Despertar do vinho

31 janeiro 2018
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Acompanhamos em Beaujolais, na França, o projeto Dormance 554, que soterrou barricas de vinho por dois anos e meio para entender as alterações nas características da bebida.

O mundo do vinho oferece muitas experiências e algumas acabam se revelando moda ou puro marketing, é verdade.

Mas eu não poderia deixar de compartilhar algo incrível que aconteceu na França em 2017, uma história que começou em abril do ano anterior, quando fomos convidados pelo Château de Pierreux a participar de um projeto secreto no Mont Brouilly, pequena montanha com 440 metros de altura, em Beaujolais.

Após selecionar algumas parcelas específicas da safra de 2015, considerada uma das melhores da história de Beaujolais, os vinicultores dos crus Brouilly e Côte-de-Brouilly enterraram, no topo dessa montanha, três barricas de 228 litros, duas delas produzidas pelo Château Pierreux, que já elaborou exemplares para o Clube Wine Premium em 2016.

Desse gesto vem o nome de parte do projeto: em francês, o termo dormance significa adormecer. Essa ideia nasceu após um viticultor local ter lido um artigo sobre os povos nômades da Ásia Menor que, na Antiguidade, produziam vinhos e os enterravam em frascos. Então, partiam em jornada e, na volta, cavavam a terra para resgatar os frascos. O objetivo era preservar a bebida.

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A ideia dos dias atuais foi entender o que um longo envelhecimento em barricas sob dois metros de terra poderia trazer aos vinhos. Jean-Baptiste Bachevillier, enólogo do Château Pierreux, nos contou que o Mount Brouilly foi o lar de feiticeiros entre 1.000 e 1.500 anos a.C., atraídos pelo magnetismo do lugar.

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A segunda parte do nome do projeto está ligada ao período em que os vinhos ficaram adormecidos: 554 dias até o mise en reveil (acordar, em francês), comemorado com uma festa para apaixonados pelo vinho e pela região. Beaujolais é conhecida internacionalmente pelo Beaujolais Nouveau, evento que acontece sempre na terceira quinta-feira de novembro, comemorando o início das vendas das primeiras garrafas de vinho Beaujolais.

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É um tinto com pouco álcool, muita fruta e bastante jovem, já que é engarrafado no mesmo ano da colheita. Mas nos últimos anos, os produtores locais vêm investindo em inovação e tecnologia para elevar a qualidade dos vinhos da região, principalmente os crus du Beaujolais, que compreendem 10 denominações – uma das mais prestigiadas, Brouilly.

Ficamos curiosos para ver o resultado do Dormance 554. Acompanhamos a escavação, que demorou um pouco devido ao cuidado para não quebrar as barricas. Os produtores não sabiam como elas se comportariam sob a terra, se ainda estavam inteiras ou se o vinho havia vazado durante o período em que ficou enterrado.

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Uma vez desenterradas e limpas, as barricas foram montadas em uma carreta antiga, para uma degustação exclusiva registrada pela tv local e por vários jornalistas especializados em vinhos. Nosso amigo Gregory Large, da Maison Mommessin, serviu o vinho para degustação.

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Foi uma sensação a mais, já que degustamos todos os anos e conhecemos bem os vinhos produzidos no Château Pierreux. Podemos dizer que o vinho dessa barrica ganhou uma dose extra de intensidade e elegância! No entanto, todos os profissionais sabem que a perspectiva de sepultar milhares de barris de carvalho por grandes casas comerciais, cooperativas ou propriedades é pouquíssimo provável.

Mas o fato é que mais de 300 pessoas participaram do evento sob o sol do verão, inclusive prefeitos de comunas vizinhas, pois em um mundo onde o racional dita as leis da vida cotidiana, um pouco de irracionalidade faz bem.

A ideia foi, justamente, oferecer uma experiência. Passamos, depois, uma noite privilegiada no Château Pierreux, como sempre nossa hospedagem em Beaujolais, e, no dia seguinte, Vicente registrou mais um Winehunter Relax no “Mont Brouilly”.

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Como rendeu poucas garrafas, infelizmente não conseguimos trazer para vocês essa experiência, para que também pudessem provar a bebida. Os vinhos foram vendidos pelos produtores locais pelo preço de 50€ a garrafa, com renda revertida para crianças hospitalizadas, por meio do Rotary Club de Belleville sur Saone. Quem sabe outra iniciativa assim não seja reproduzida?

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