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Curiosidades

Curiosidades sobre a vinicultura na França

18 novembro 2023
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Texto escrito por Nancy Alves

A França é conhecida no mundo inteiro pela qualidade e diversidade de seus vinhos. Esta fama se deve a certas particularidades de solos, castas de uva, climas (ou terroir vistos sob conjunto), assim como à tradição de seus vinhateiros (vignerons) ou produtores (producteurs), herdeiros de um longo conhecimento passado muitas vezes de geração em geração (savoir-faire).

Graças a nuances sutis, cada solo, safra e castelo (ou château: domínio, vinícola ou propriedade) oferecem ao país o privilégio de apresentar uma gama de vinhos inigualáveis. Assim, o consumidor sem dúvida encontrará o vinho de sua preferência, de acordo com suas possibilidades.

Se no Brasil muitas vezes o vinho ainda é considerado um artigo de luxo, entre os franceses a bebida faz parte do cotidiano, de sua cultura e de sua gastronomia.

Por isso, neste texto você descobrirá algumas particularidades das características da vinicultura da França.

O vinho na França

A origem da vitivinicultura na França é controversa. Tudo parece ter começado com a colonização do sul da França pelos gregos vindos da Lídia, que ali se instalaram tentando escapar da invasão persa. Eles fundaram Massália (atual Marselha), que produzia seu próprio vinho e as ânforas para o transporte e a exportação.

Alguns historiadores acreditam que o primeiro vinho experimentado na Borgonha, tenha vindo de Marselha ou da própria Grécia, já que, além de grandes exportadores, os gregos dominavam as rotas do rios Rhône, Saône (na Borgonha) e também do Sena e do Loire. Em 1952, foi descoberta na cidade de Vix (situada entre Paris e a região da Borgonha) uma enorme jarra grega em fino bronze, com aproximadamente dois metros de altura, capacidade de 1.200 litros e datando de 600 a.C.!

Em relação aos responsáveis pela chegada da bebida na França, outros estudiosos ainda se dividem entre os romanos e os celtas. E há ainda os que afirmam que nômades que habitavam a região da França na Idade da Pedra se dedicaram ao plantio e à colheita de uvas.

Vale lembrar que muito perto das cavernas de Lascaux (região do Périgord, sul da França) ainda brotam vinhedos selvagens. É bem provável que os gauleses, de origem celta, tenham travado contato com os vinhos do Mediterrâneo, via Marselha, e não o contrário. Marselha passou a fazer do Império Romano em 125 a.C., mas não deixou de se considerar uma cidade grega. Narbonne (antiga Narbo), situada na região da Provence (Provença), foi de fato a primeira colônia romana em terras francesas.

Deste ponto, o império de César seguiu para o Vale do Rhône e, a oeste, atingiu a região de Bordeaux. Borgonha, Tréveris e Bordeaux foram, no início, regiões importadoras de vinho, passando depois a plantar suas próprias parreiras e se transformando em grandes centros de produção e exportação de vinho.

É fato que no século II já existiam vinhedos na Borgonha e, no século III, no Vale do Rio Loire. No século IV, eles já estavam presentes nos arredores de Paris, Champagne, Mosela e Reno. Já os vinhedos da Alsácia surgiram apenas no século IX e não vieram dos romanos.

Castas francesas

A casta ou cepa é o tipo, a qualidade ou a variedade de vinha (videira ou parreira) que produz certa uva, com peculiaridades próprias. Cada cepa é responsável pela composição de determinado vinho ou contribui para sua a elaboração, no caso dos vinhos de corte (quando se mesclam duas ou mais uvas).

Principais castas de uvas tintas francesas

● Cabernet Sauvignon: uva tradicional da região de Bordeaux (especialmente no Médoc).

● Cabernet Franc: uva leve, menos tânica e de casca menos grossa; quando pura (Vale do Loire, região noroeste da França) produz o clássico Chinon.

● Pinot Noir: a casta dos grandes vinhos tintos da Borgonha, por excelência; muito delicadas, as uvas possuem casca fina, textura sedosa, mas rica em taninos e por ser de maturação precoce, em geral mostra boa acidez.

● Merlot: muito cultivada na região de Bordeaux, onde é majoritária; entra na elaboração dos famosos Château Pétrus e Saint-Émilion.

● Shiraz ou Syrah: responsável por vinhos intensos, muito encorpados e tânicos, principalmente no Vale do Rhône (sul da França).

● Gamay: uva da região de Beaujolais, por excelência, entrando na elaboração do próprio Gamay e do Beaujolais.

● Grenache: a cepa mais cultivada no mundo, dando vinhos fortes, frutados, escuros e de alto teor alcoólico.

● Malbec: principal variedade da região de Cahors, também presente em Bordeaux; dá origem a vinhos encorpados, potentes, macios, frutados, de cor escura e com muito tanino.

● Tannat: uva originária do sul da França; gera vinhos estruturados e encorpados, com grande intensidade de cor e aromas deliciosos de frutas escuras e chocolate.

Principais castas de uvas brancas francesas

● Chardonnay: originária da Borgonha, é a casta de uva branca de maior prestígio no mundo.

● Sauvignon Blanc: normalmente encontrada no Vale do Loire (em Pouilly Fumé e Sancerre); trata-se de uma uva seca e viva, que gera vinhos frutados, ligeiramente estruturados e cítricos, de alta acidez.

● Chenin Blanc: cepa versátil, apta ao envelhecimento, proveniente do Vale do Loire, a qual produz desde vinhos brancos secos, que envelhecem bem, a vinhos doces, complexos, de sobremesa e até espumantes estilo champanhe, na cidade de Vouvray.

● Gewürztraminer: tida como a mais aromática das uvas, tem pele rosada e gosto característico. Típica da região da Alsácia (noroeste da França).

● Sémillon: mesclada com a Sauvignon Blanc é a base da composição dos grandes vinhos de Bordeaux, tanto os secos (da região de Graves) quanto os doces (da região de Sauternes).

● Viognier: uva de forte aroma, da região de Côtes du Rhône setentrional, produz vinhos muito leves e aromáticos.

● Riesling: juntamente com a Chardonnay, é considerada umas das principais uvas do mundo. Seus vinhos apresentam médio (ou baixo) teor alcoólico e elevada acidez.

● Muscat: denominada Moscatel na península Ibérica e Moscato na Itália. Única variedade que, mesmo depois da fermentação, ainda apresenta aroma de uva fresca.

Classificação dos vinhos franceses

A classificação dos vinhos franceses é um sistema renomado e complexo que desempenha um papel fundamental na compreensão e apreciação dos vinhos produzidos na França. A classificação pode ser de acordo com a origem, com o teor de açúcar e também com com o tipo ou estilo.

O vinho nunca esteve tão em alta. Ou talvez nunca tenha deixado de estar. Desde sua origem na Ásia, na Antiguidade, ao apogeu no Velho Mundo, durante a Idade Média e Renascença, chegando ao Novo Mundo nos dias de hoje, o vinho se faz cada vez mais presente, tanto nas comemorações quanto na vida cotidiana e entender como se deu a origem da bebida no território francês é também celebrar o mundo do vinho. Um brinde!

Este material faz parte do livro Degustando em francês, conheça outros exemplares dos livros escritos por Nancy Alves.

Sobre Nancy Alves

Consultora Pedagógica e Mestra em Língua Francesa pela Universidade de São Paulo (Gradução e Pós-Graduação na USP). É especialista das relações interculturais entre o Brasil e a França na área da Música Popular. Dedica-se há mais de vinte cinco anos ao estudo da língua francesa. Possui duas especializações na França : Pedagogia, Linguística e Análise do Discurso pela Universidade de Paris XIII (um ano) e Formadora de Professores pelo Ministério de Educação da França (CIEP). Responsável pela implantação da Língua Francesa no Senac. Ministrou aulas na FAAP, FATEC, HOTEC e FMU. Participou recentemente (como coordenadora do Francês) de um projeto humanitário de Alfabetização em Francês para países da África subsaariana desenvolvido pela Telefônica Educação Digital (Brasil e Espanha) com o apoio do Vaticano. É autora dos livros Fale tudo em Francês (Disal Editora), Fale tudo em Francês em Viagens (Disal Editora), Francês Fluente em 30 lições (no prelo – Disal Editora) .

Escrito por: Wine